Negligência com a probabilidade
Tomar riscos. Essa é uma variável unânime entre as pessoas mais bem-sucedidas. Aristóteles tem uma passagem muito interessante sobre esse tema que diz o seguinte:
"Se o indivíduo assumir riscos e enfrentar seu destino com dignidade, nada do que ele possa fazer o tornará pequeno; se você não assumir riscos não há nada que possa fazer para tornar-se grande, nada.”
Assumir riscos é fundamental para construir caminhos relevantes durante a vida. Isso você provavelmente já sabe. No entanto, quero compartilhar um ponto de vista sobre esse assunto com base em um capítulo - que eu leio e releio frequentemente - do livro ‘A Arte de Pensar Claramente’, que é um dos melhores livros que li na vida. O capítulo diz o seguinte…
Dois jogos de azar: no primeiro, você pode ganhar 10 milhões de no primeiro, sua vida vai mudar poderá pendurar as chuteiras e a partir de então, viver só dos rendimentos. Se levar a bolada no segundo jogo, poderá passar umas belas férias no Caribe, nada mais.
A probabilidade de ganhar no primeiro jogo é de uma a cada 100 milhões; no segundo, uma a cada 10 mil. Então, qual você escolhe?
Nossas emoções nos atraem para o primeiro jogo, embora o segundo, visto objetivamente, seja der vezes melhor. Eis por que a moda de prêmios cada vez maiores - milhões, bilhões, trilhões -, não importa quão ínfimas forem as chances de ganhar.
Em um estudo clássico de 1972, os participantes de um experimento de laboratório foram divididos em dois grupos.
Aqueles do primeiro grupo foi dito que receberiam um choque elétrico.
No segundo grupo, o perigo de levar um choque era de apenas 50%, ou seja, a metade.
Os pesquisadores mediram a tensão corporal (frequência cardíaca, nervosismo, suor nas mãos e assim por diante) pouco antes do momento mencionado. O resultado foi surpreendente: não houve diferença. Os participantes de ambos os grupos experimentais estavam igualmente tensos.
Por essa razão, os pesquisadores reduziram a probabilidade de um impulso de corrente no segundo grupo de 50% para 20%, depois para 10% e para 5%. Resultado: ainda nenhuma diferença!
Contudo, quando os pesquisadores aumentaram a intensidade do impulso de corrente esperado, a tensão corporal aumentou nos dois grupos. Mas nunca houve uma diferença entre ambos.
Isso significa que provavelmente reagimos à extensão esperada de um evento (total do prêmio e, respectivamente, intensidade da tensão elétrica), mas não à sua probabilidade. Em outros termos: falta-nos uma compreensão intuitiva para probabilidades.
Fala-se de negligência com a probabilidade (neglect of probability), que conduziria a vieses de decisão. Investimos em uma start-up porque o possível lucro nos deixa tentados, mas nos esquecemos (ou somos preguiçosos demais para nos lembrar) de determinar a probabilidade com a qual empresas jovens obtêm um lucro como esse.
Ou então: após uma catástrofe aérea relatada por todos os meios de comunicação de massa, perdemos a passagem de avião que havíamos comprado, sem realmente levar em conta a ínfima probabilidade da queda de um avião (que, aliás, após uma catástrofe, é exatamente tão grande ou tão pequena quanto antes dela).
Muitos dos que investem por hobby comparam seus investimentos apenas com base nos rendimentos. Para eles, uma ação do Google com um rendimento de 20% é duas vezes melhor que um imóvel com uma renda de 10%.
Mais razoável seria, obviamente, levar em conta os diferentes riscos desses dois investimentos. Mas, justamente, não temos nenhuma sensibilidade natural para riscos, por isso muitas vezes nos esquecemos deles.
Voltemos ao experimento de laboratório com os choques elétricos. A probabilidade de um impulso de corrente no grupo B foi novamente reduzida: de 5% para 4% e, depois, para 3%. Somente com a probabilidade de 0% o grupo B reagiu de modo diferente do grupo A. Portanto, o risco de 0% parece muito melhor do que o de 1%.
Avalie duas medidas para o tratamento da água potável. Um rio tem dois afluentes, a e b, igualmente caudalosos. Na medida A, o risco de mor-ter por causa da água poluída do afluente a cai de 5% a 2%. Com a medida
B, o risco com o afluente b cai de 1% a zero, ou seja, é completamente eliminado. A ou B?
Se você responder como a maioria das pessoas, dará preferência à medida B - o que não faz sentido, porque com a medida A morrerão 3% menos pessoas, enquanto com a B, apenas 1% menos. A medida A é três vezes melhor! Esse erro de pensamento é chamado de viés de risco zero (zero-risk bias].
A moral da história é que identificamos mal diferentes riscos, a não ser que ele seja zero. Como só compreendemos os riscos intuitivamente, temos de calcular. Quando as probabilidades são conhecidas - como na loteria , isso é fácil. Contudo, na vida normal, é difícil avaliar os riscos - e, no entanto, não é possível fugir deles.
Aprenda a identificar riscos. Tome cuidado cuidados ainda maiores com os vieses que eles podem trazer.
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